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terça-feira, 19 de julho de 2011

Cafés de Qualidade em Vans

A moda de tomar cafés diferenciados fora das cafeterias ganhou força no exterior. No Brasil, espaço é o que não falta. Mas será que é um bom negócio?

Uma cena comum no centro nervoso de Londres: executivos apressados passam correndo com seu copo de café nas mãos para começar bem o dia. Não somente na Inglaterra, mas em vários países europeus, existe o costume de tomar o café da manhã no escritório ou na rua. Muita gente é adepta do chamado take away e não compra a bebida somente nas cafeterias. Cada vez mais estão surgindo carrinhos ou vans incrementadas com infraestrutura para oferecer cafés de qualidade a preços acessíveis. Esse tipo de ponto de venda não é novidade, mas vem ganhando o mundo nos últimos dez anos. No Brasil, a moda ainda está engatinhando, mas mercado não falta para essa tendência deslanchar no País, um dos maiores produtores e consumidores de café.



Caracterizado por ser uma bebida democrática, o café ganhou esses novos formatos de venda como aliados para expandir seu consumo. “O café é uma bebida que pode ser consumida em qualquer lugar. Você o encontra nas máquinas automáticas instaladas em consultórios, empresas, hotéis, e isso abre frentes para novos tipos de negócio”, diz Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que abordou o tema na palestra do 17º Encafé.

UM BRASILEIRO EM LONDRES

Na Europa, Austrália e Estados Unidos existem diversas franquias de estações móveis de cafés. A Cafe2You é uma das redes que têm carrinhos espalhados por vários locais de grande movimento. O barista brasileiro Fábio Henrique Ferreira deixou o Brasil para viver em Londres e montar um negócio próprio. Premiado, acreditou no formato de vans para venda de cafés e hoje faz parte das franquias francesas Auto Café e The Flap Cap Coffee Co. Ele tem uma van – atualmente fora de circulação – e um carrinho superequipado que fica no centro de Londres, onde há um alto movimento de pessoas.

Segundo Fábio seu grande diferencial é a qualidade da bebida, comparada a grandes cafeterias como Starbucks, Nero Café, entre outras. Seus clientes tomam o café em copos de papel. “Busco o café fabricado por James Hoffmann, o barista campeão mundial, que muda seu blend a cada três meses. Nunca fico com um café com mais de 30 dias de torra para servir aos meus clientes”, conta.

O carrinho de Fábio chama a atenção por seu design retrô. Mas quem olha não imagina a alta tecnologia que há ali para fazer com que o café seja perfeito. “Não servimos o café muito quente, somente quando o cliente nos pede; no entanto, alertamos sobre o fato de que essa não é a maneira correta de servir a bebida”, diz. Latte, cappuccino ou o espresso bem tirado. No carrinho de Fábio o cliente encontra ainda alguns diferenciais, como leite orgânico e leite de soja. “Existem muitos vegetarianos, por isso me preocupei em acrescentar esse tipo de leite no meu cardápio”, afirma o barista.

De início, quem vê o carrinho dele no centro de Londres imagina que seja um negócio fácil. Mas não é. O barista tem vários cuidados para garantir que o carrinho dê lucro. “Preciso ter agilidade na hora de servir a bebida e contar com uma infraestrutura confiável, principalmente uma máquina de café que não te deixe na mão.”

Outro grande desafio é o custo e retorno de investimento. Para ter um carrinho semelhante, o investimento na Inglaterra é de cerca de 15 mil libras, algo em torno de R$ 45 mil, por conta dos equipamentos de alto valor agregado que fazem parte da estação móvel. Um café latte é vendido a 2,40 libras, enquanto que um cappuccino custa 1,80 libra. São produtos com baixo valor, mas que têm forte potencial em volume. “Cerca de 90% das pessoas que passam pelo carrinho compram a bebida todos os dias. Ofereço um produto de alta qualidade com um preço bem mais acessível do que as cafeterias convencionais”, diz o barista.

Outro diferencial do The Flap Cap Coffee Co. é o tamanho do café oferecido aos clientes, que tradicionalmente o tomam em grandes quantidades. E por conta disso, Fábio não deixa de trabalhar o latte art. “O café é diferente em sabor e também procuro caprichar no seu visual. Trabalho com dois tamanhos, sendo que meu café pequeno é o grande de boa parte das cafeterias e carrinhos, pois o europeu tem o costume de beber café na mesma quantidade de um copo de Coca-Cola”, enfatiza.

Levar essa ideia do The Flap Cap para o Brasil? Fábio acha muito complicado dar certo. “O brasileiro não está acostumado ainda a tomar café em copo de papel e os carrinhos não têm infraestrutura para oferecer o café em xícaras. O investimento é alto e o risco é grande.” Além disso, o barista recrimina o preço cobrado no País por um bom cappuccino. “O Brasil produz leite e café, não se justifica cobrar R$ 8,50 por uma xícara da bebida. É um roubo”.

MARCA TRADICIONAL, IDEIA NOVA

Localizado em um dos andares do Shopping Cidade Jardim, considerado um dos centros de luxo brasileiros, um charmoso carrinho da marca illy Café chama a atenção no meio das lojas de grife. O Rolling Store – uma alusão ao nome do grupo musical Rolling Stones – serve cafés da marca e acompanhamentos e tem uma infraestrutura digna de respeito.

Seguindo o conceito Espressamente illy – que carimba 300 lojas da marca em todo mundo –, o carrinho da illy, todo feito de aço inox e com equipamentos italianos, tem a capacidade de servir quatro espressos por minuto. Lá os copos de papel dão lugar às tradicionais xícaras, mas com um toque de design. “O cliente toma um café bemtirado, feito com grãos de qualidade, pode comer um pão de queijo bem quentinho, sanduíches ou um doce”, diz Lauro Bastos, diretor da ACN, distribuidora da marca illy no Brasil. Até o momento, a empresa possui apenas um carrinho nesse formato no País. O equipamento é importado da Itália. “Por ser fabricado artesanalmente, o custo ficaria nas alturas caso tivesse que ser construído aqui.” Hoje, um Rolling Store da illy não sai por menos de 35 mil euros – algo em torno de R$ 90 mil.

O carrinho da illy é top de linha em termos de infraestrutura. Nos Estados Unidos, esse tipo de ponto de venda móvel da marca pode ser encontrado em eventos, jogos de basquete, shows, entre outros. No entanto, segundo Lauro, o equipamento móvel não precisa ser tão grande como o instalado no Shopping Cidade Jardim. “Pode ser colocado em um aeroporto ou no pátio de uma escola e apenas o barista trabalhar sozinho ou com um assistente. O grande desafio é a criatividade do empresário na hora de oferecer produtos, já que por conta da falta de espaço não é possível ter grande sortimento. Fora isso, há a necessidade de apostar na venda de cafés em grande volume para garantir retorno ao investimento.”

Na visão do executivo da ACN, esse tipo de tendência ainda não pegou no País, mas pode ser uma excelente opção para feiras, por exemplo. “É necessário casar locais que tenham alto consumo de espresso, investimento em uma bancada para oferecer acompanhamentos para os cafés e a própria operação da bebida, que é feita na hora.” Para Lauro, a premissa “estar no lugar certo na hora certa” pode render bons frutos no Brasil para esse tipo de negócio. “Pode ser uma grande oportunidade, pois esse formato de venda de café se daria muito bem em locais sazonais frequentados por pessoas de alto poder aquisitivo, como Campos do Jordão e Ilhabela.” Pode ser até mesmo em Paris. “Se você está na Champs Elysées, paga sem reclamar 5 euros para curtir a bebida junto com a paisagem do lugar. Para manter um carrinho é preciso ter um ambiente que permita cobrar mais caro pelo serviço.” Recado anotado.

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