Delivery de kits semiprontos permite ao consumidor finalizar o prato em casa, trazendo mais valor em tempos de portas fechadas (Imagem: Agência Sebrae) |
A necessidade do isolamento social provocada pela pandemia da Covid-19 estimulou a criatividade dos empreendedores da área de alimentação. Para intensificar a experiência do consumidor e ajudar no faturamento do negócio, o setor aposta na venda de opções semiprontas para finalização na casa do cliente que vão do café da manhã até o drink do fim de noite.
Na avaliação da consultora do Sebrae-SP Karyna Muniz, trata-se de uma excelente oportunidade de Mariana Shimada e Georgia Paschoal, do Georgia Café: brunch em domicílio conexão do negócio, da cozinha e do chef com o seu cliente. Segundo ela, diversos restaurantes mundo afora, inclusive selecionados pelo Guia Michelin, estão com seus chefs estrelados atuando nesse formato.
“Passa a ser uma experiência nova e customizada se você utilizar, por exemplo, os canais digitais enviando um vídeo com dicas de como finalizar as preparações via WhatsApp, SMS ou até mesmo por meio de um bilhetinho, um cartão com o passo a passo dessa finalização”, afirma Karyna.
Vendidos nos aplicativos de entrega, plataformas próprias ou via rede social, os kits para preparo ajudam a amenizar o rombo nas contas. A quarta edição da pesquisa do Sebrae sobre os impactos da pandemia nos pequenos negócios mostrou que, em média, as empresas de serviços de alimentação registraram uma queda de 58% no faturamento em relação a uma semana normal.
Para enfrentar a crise, o Georgia Café, com unidades em Santos e Guarujá, precisou adaptar a parte operacional e estrutural do negócio, incluindo embalagens, logística de entrega, plataforma digital para pedidos e até alguns produtos para formatos mais adequados para trazer praticidade na hora da retirada ou delivery.
Ao perceber um crescimento da valorização do artesanal e de mais “aventureiros” na cozinha, as proprietárias do café, Georgia Paschoal e Mariana Shimada, resolveram vender kits com ingredientes para o cliente montar um brunch em casa. “Muitas vezes, nosso cliente quer ter o sabor do nosso canto na sua mesa, mas também quer participar do processo de preparo, colocando a mão na massa de certa forma”, conta Georgia.
O kit de sucesso é o brunch inspirado no prato servido no café com avocado, cogumelos, ovos mexidos, tostas de pão artesanal de fermentação natural, molho de tomate e opção de parma ou salmão defumado. Os itens são entregues em embalagens separadas dentro de uma caixa com laço, como se fosse um presente. O kit para duas pessoas custa a partir de R$ 55.
Para Georgia, o comportamento do consumidor já mudou e continuará mudando no pós-pandemia. “Engana-se aquele que pensa que assim que liberarem o comércio, tudo voltará ao normal. Por isso, um dos nossos planos é criar cada vez mais linhas de produtos diferentes, com embalagens atrativas, investindo no sistema grab and go (pegue e leve) e principalmente no ‘pronto para consumo’. Lembrando sempre que isso não significa não trabalhar com produtos frescos e feitos artesanalmente, que é o nosso ponto forte”, destaca Georgia.
Além de brunch, é possível encontrar kits para preparo de massas e até comida japonesa como o sukiyaki, um cozido japonês que leva legumes, carne em fatias finas e um molho especial. Para proporcionar uma experiência mais completa, bares e restaurantes também vendem kits para preparo de drinks, com o envio do gelo em formato especial para evitar o derretimento rápido.
Lanche em casa:
O brasileiro já estava acostumado a pedir hambúrguer via delivery. Mas a venda de kits para preparo do lanche em casa passou a ser mais explorada pelos negócios do setor com a quarentena. No Old Man Sandwich Shop, localizado em São Caetano do Sul, a ideia de vender os kits surgiu com a busca pela aproximação do cliente. “As pessoas começaram a buscar mais atividades para fazer em casa e vimos uma oportunidade de fornecer essa experiência de ser ‘chapa por um dia”, conta Daniela Rodrigues sócia-proprietária do local.
Em setembro de 2019, a empresa realizou uma reforma para ampliar a cozinha e também fez alterações no salão este ano. “Como todas as pessoas, fomos pegos de surpresa devido à expectativa de voltar com um salão maior e conseguir retornar todos os custos que estávamos tendo por causa da ampliação. Agimos rapidamente e não paramos nenhum dia o delivery. A demanda está cada vez maior, estamos ainda cheios de preocupações e incertezas, porém indo bem, conseguindo manter nosso restaurante, equipe e a marca”, relata Daniela.
Kit Old Man (Imagem: Agência Sebrae) |
No Old Man, é possível encomendar os kits de dois lanches do cardápio, Cheese Burger (R$36) e o Blacksmith (R$46), com um dia de antecedência pelo WhatsApp da empresa. Para ajudar no preparo, dois vídeos no IGTV no Instagram ajudam na explicação, além de uma carta enviada junto com o kit.
As instruções de preparo, inclusive, são um ponto de atenção, segundo a consultora Karyna Muniz. Além de verificar se o alimento “viaja bem”, a empresa precisa informar qual a melhor forma do cliente finalizar a preparação em um ambiente doméstico. “O empresário não pode esquecer que em cozinhas domésticas não temos fornos e equipamentos de última geração. Dicas de cuidados ao abrir as embalagens são bem vindas. E, claro, dicas adicionais de como fazer a montagem para que a preparação fique na casa do cliente tão bonita quanto ficou na divulgação do seu site ou rede social”, ressalta.
Planejamento:
As vendas de kits não devem sair do cardápio das empresas após a quarentena. Para avaliar a manutenção da oferta, a dica da consultora do Sebrae-SP é observar com quais necessidades o empresário tem convivido no ambiente de sua residência, consultar amigos e compreender quais tendências ocorrem quando os consumidores mudam seus hábitos. “Esse é o instante perfeito para ir atrás desses comportamentos para vislumbrar qual melhor caminho deve ser seguido”, completa.
Atenção ao oferecer o kit!
Vender kits para finalização do preparo em casa pode ser uma forma de conexão, mas exige cuidados:
- Use os canais digitais para enviar um vídeo com dicas de como finalizar as preparações via WhatsApp ou SMS.
- Para não depender apenas do vídeo, envie um bilhete ou mesmo um cartão com o passo-a-passo da finalização.
- Preste atenção se o produto “viaja bem”, se não sofre muitas alterações no trajeto de entrega.
- Informe a melhor forma de o cliente finalizar a preparação em um ambiente doméstico. Lembre-se que cozinhas domésticas, em geral, não têm fornos e equipamentos de última geração.
- Embalagens são como as “roupas que vestem” o seu produto. Por isso, precisam ser bonitas. Precisam também ser apropriadas para a preparação e, acima de tudo, dispor das orientações sobre como higienizar antes da abertura, como abrir e como descartar.
Via Agência Sebrae